Uma solução autoperfurante desenvolvida na Alemanha há cerca de oito anos permitiu a execução de uma linha de 40 tirantes provisórios com 16m de extensão - sendo 10m ancorados e 6m em trecho livre - no entorno do terreno de 920m2 do futuro Condomínio Edifício Convex Center, localizado no Bom Retiro, tradicional bairro da zona central de São Paulo. O método executivo do sistema de ancoragem, que emprega o tirante Titan fabricado pela Ischebeck alemã, dispensa a injeção de água durante a perfuração e a posterior lavagem do furo para instalação do cabo de aço e injeção do cimento. A explicação é simples: na medida em que o solo vai sendo perfurado, a calda de cimento é simultaneamente injetada.
Comparado ao sistema convencional, a técnica que acaba de desembarcar no Brasil reduz a mão-de-obra necessária e o prazo para a conclusão do serviço. O método tradicional permite executar, empregando oito homens, apenas dois tirantes de 12m a 15m por dia, explica o engenheiro Walter Roberto Iório, da Embrageo, empresa que executou os tirantes para o edifício comercial de oito pavimentos e três subsolos do Bom Retiro. Com o Titan, garante, é possível aumentar o número de tirantes para seis e usando apenas cinco trabalhadores. O custo, porém, ainda é cerca de 13% maior. " A chegada de novos equipamentos ao Brasil deve reduzir substancialmente essa diferença", prevê Iório.
Tensões prejudiciais - Um dos principais motivos que levaram a Convex Engenharia, empresa responsável pelas obras do condomínio homônimo, e a Fundacta Consultoria e Engenharia de Fundações a optar pelo sistema alemã foi a impossibilidade de executar um atirantamento convencional - as injeções localizadas de cimento poderiam dar origem a tensões prejudiciais ás fundações das edificações vizinhas. Além disso, havia o risco de a água utilizada para a perfuração e lavagem do furo provocar provocar alguma acomodação. " O solo do terreno é composto de diferentes camadas de areia e argila mole", afirma o engenheiro Daniel Rozenbaum, da Fundacta.
Caso a técnica alemã, patenteada no Brasil pela Sondeq Comercial de Equipamentos, ainda não estivesse disponível em território nacional, a alternativa mais viável economicamente seria aumentar o volume de escavação em até 7m, executando taludes maiores. O custo seria praticamente o mesmo; o processo, porém, bem mais lento e trabalhoso. "Remover terra debaixo de laje é uma tarefa ingrata", resume Rozenbaum.
Cada um dos 40 tirantes provisórios - após o travamento das lajes dos subsolos, eles não serão mais úteis - suporta até 35 t de carga e está instalado no centro das lamelas de uma parede-diafragma com 30cm de espessura. Executada para evitar a entrada d'água no subsolo - o lençol freático está localizado a apenas 1,5m da superfície - , ela alcança 20m de profundidade. "São praticamente dois subsolos e meio abaixo do nível d'água, afirma o engenheiro da Convex responsável pela obra, Saul Sztajman. Tanto a parede-diafragma quanto as estacas barretes, concretadas a cerca de 15m abaixo do terceiro subsolo, foram executadas pela Anson.
" Improviso" a brasileira - A logística para a execução da linha de tirantes, projetada na altura do 2º subsolo, envolveu um misturador, uma bomba para injetar o cimento sob pressão, uma perfuratriz TR-8 adaptada e um martelo rotopercussor acionado por ar comprimido. A tecnologia, no entanto, ainda está incompleta; na Europa, a maioria absoluta dos martelos empregados nesse tipo de serviço é hidráulica. No Bom Retiro, os engenheiros brasileiros tiveram que "improvisar" um sistema pneumático. " Os martelos hidráulicos ganharam o mercado europeu e asiático porque são menores, mais versáteis e econômicos", acredita Paulo Dequech, da Sondeq.
O Condomínio Edifício Convex Center não é a primeira obra brasileira a lançar mão da técnica alemã. Os tirantes Titan já foram empregados como reforço de fundação a tração em um edifício comercial de 12 pavimentos no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro, e para compor uma grelha que ajudou a estabilizar um muro de contenção em um galpão industrial de Cotia-SP. Em ambos os casos, porém, as cargas eram bem menores do que as 35 t do canteiro paulistano.
O prédio de 5,7 mil m2 de área construída está sendo bancado por um grupo de incorporação composto por diversas empresas e investidores pessoais. Profissionais liberais que necessitam de um escritório moderno e próximo ao centro da cidade são o público-alvo do empreendimento. Por isso, os pavimentos de 285 m2 de área total serão divididos em seis conjuntos de escritórios distintos - cada um com cerca de 42m de área útil. As obras do edifício, iniciadas em agosto do ano passado, devem estar encerradas somente no início do ano 2000. O investimento total não foi divulgado pela Convex.

Na Ponta do Lápis
Observe no quadro abaixo uma comparação entre a composição de custos do sistema alemão e do método tradicional de execução de tirantes, par uma carga estimada em 35 t. Repare que o custo dos materiais é o que mais incide sobre a tecnologia européia. Caso o tirante fosse fabricado no Brasil, analisam alguns especialistas, a diferença de 13% que ainda separa as duas soluções seria praticamente eliminada.

Mão-de-obra
Equipamentos
Materiais
Tirantes Titan
19,4%
15,0%
65,6%
Tirantes Convencionais
41,3%
12,2%
46,5%
   

FICHA TÉCNICA : - Construção : Convex ; Projeto Arquitetônico : Israel Rewin; Projeto de Fundações : FUNDACTA; Projeto Estrutural : Teca; Execução de Fundações e parede-diafragma : Anson; Execução dos Tirantes : Enbrageo; Tecnologia dos Tirantes : Ischebeck / Sondeq .

Matéria Publica na Revista A Construção São Paulo "Furo Recheado"
Número 2573 - junho/97 - páginas 30 e 31

 

FURO RECHEADO
(ERIC COZZA)
Obra no bairro paulistano do Bom Retiro emprega
técnica alemã de execução de tirantes para reduzir
volume de escavações.